Primeira decepção
O Fórum da liberdade defende o livre-mercado. Ora, eu também o defendo, mas nem por isso produzi um vídeo institucional ridículo e piegas, que tenta fundamentar a questão de modo ridiculamente didático. Senti uma terrível vontade de ingressar no Psol após ser forçado a assisti-lo.
Palestra do Aznar

Ele defende a liberdade econômica com os clichês fundamentais quando se fala dela: estado pequeno, corte de gastos, equilíbrio fiscal e corte de impostos. Claro, corte de impostos recebem aplausos. Que ótimo!, ele defende a privatização! Espero que a Yeda o escute, se é que ela é capaz de escutar alguém.
Aznar dá exemplos de como a Espanha pós Franco era uma porcaria e de como melhorou após as reformas liberais. Não duvido. Deixar as empresas crescerem, criar condições para que um empreendedor toque suas idéias sem o estado para pentelhar é o basicão... A Espanha é, hoje, é realmente um país próspero. Claro, a União Européia ajudou muito, ele admite. Político afastado da política (derrotado nas eleições de 2004), Aznar fez um discurso mediano, e não se furtou de cutucar os políticos que discursam por quatro, cinco horas. O dele durou 40 minutos.
Perguntas- as perguntas são, via de regra, ruins. As pessoas sempre tratam o palestrante como um painho, com perguntas como: “o que o Brasil deveria fazer?” ou “que dicas você daria ao Lulla?”. É quase como se não tivessem escutado a palestra. De qualquer forma, foram apenas três: rápidas, rasas e servis. Nunca questionadoras. Depois se mandou. Compromissos em SP, ele disse. Será mais uma palestra? Quanto o mercado está pagando por sua palestra? Espero que pouco...
Painel 2 - As limitações constitucionais e legais ao direito de propriedade: estímulo ou empecilho para o desenvolvimento? (Ives Gandra Martins, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e Frei Betto)
Frei Beto é o clichê por excelência. É bastante aplaudido, mas não toca nem de leve no tema do painel. O que ele acha do direito à propriedade privada? Quando ele assessorava o MST, ele era a favor? Agora, sua retórica social, seus termos como globocolonização ou globalização da solidariedade, só servem para rir. E claro, citar o falecido Papa garante mais aplausos. Investir em educação e criticar a ética dos políticos é o ápice do lugar-comum. Qualquer quitandeiro diz o mesmo.
Infelizmente é preciso ser justo. O tal de Ives Gandra Martins fala bem, conquista a platéia, mas, inacreditavelmente, não contesta em nada o Frei. Apenas Ferreira Filho, um sujeito que dá muito sono, contesta as besteiras do ex-assessor do presidente, expondo ao ridículo a tese de que uma sociedade com muitos empresários seja levada ao corporativismo. Como um herói, ele tenta – sem sucesso, mas com estilo -, retomar o rumo do debate. Puxo aplausos. Felizmente sou acompanhado. Não sei se concordam comigo, acredito apenas que as pessoas, como focas amestradas, tem grande prazer em aplaudir. No entanto, apesar de unidos, falhamos. Novamente o debate descamba para o óbvio: educação e carga tributária.
Enfim, “a democracia se nutre do debate de idéias”, diz o mediador; porém, debate não houve. E eu quase, quase!, elogiei a coragem do Frei Beto por representar a esquerda num ambiente que prega o livre-mercado. Não o elogiei, ainda bem. Ele não foi em nada questionado. Nada! Apenas uma perguntinha fraquinha do também fraco mediador. Parabéns ao fórum por anular o debate e não respeitar o tema do painel.